Ciência

Vida fora da Terra? Cientistas encontram sinais no planeta K2-18 b

Desde 2023, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) vem nos presenteando com descobertas surpreendentes sobre exoplanetas. A mais recente, publicada no The Astrophysical Journal Letters, encontrou indícios químicos que, no nosso mundo, só surgem por ação de seres vivos. Será que estamos à beira de confirmar a vida fora da terra? Entenda tudo o que já sabemos sobre o fascinante K2-18 b e a bioassinatura de possível vida microbiana.

Descoberta dos gases biológicos na atmosfera de K2-18 b

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Vida fora da Terra? Cientistas encontram sinais no planeta K2-18 b – Imagerm: Freepik

Pela primeira vez, cientistas detectaram na atmosfera de um exoplaneta as “impressões digitais” químicas de gases produzidos apenas por processos biológicos na Terra. No K2-18 b, localizado a 124 anos-luz de nós, foram encontrados traços de sulfeto de dimetila (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS).

Observados com confiança de 99,7%, esses compostos são gerados na Terra por microrganismos marinhos, como o fitoplâncton. Ainda não há confirmação de organismos vivos, mas a presença dessas moléculas é o indicativo mais forte de bioassinatura que já vimos em um mundo além do Sistema Solar.

O que são DMS e DMDS e por que importam

Sulfeto de dimetila (DMS) e dissulfeto de dimetila (DMDS) pertencem à mesma família química e desempenham papel fundamental nos ciclos biogeoquímicos terrestres:

  • DMS: derivado de compostos de enxofre presentes em algas marinhas, atua no clima como formador de aerossóis.
  • DMDS: subproduto da oxidação do DMS, também exclusivo de reações biológicas.

Na Terra, não conhecemos reações puramente químicas que produzam esses gases em escala atmosférica. Portanto, sua presença no K2-18 b sugere fortemente a existência de vida microbiana.

Possíveis explicações alternativas

Cientistas reconhecem que nosso conhecimento é sempre limitado e buscam hipóteses não biológicas para DMS e DMDS em outros corpos celestes. Um estudo de novembro de 2024 mostrou DMS em um cometa, possivelmente formado por reações químicas em grãos de poeira.

Porém, as concentrações medidas no K2-18 b — mais de 10 partes por milhão — são milhares de vezes superiores ao que seria esperado por simples transporte de cometas. Isso torna improvável que o DMS tenha vindo apenas de impactos ou processos não biológicos. Ainda assim, entender toda a química exoplanetária é crucial para descartar 100% de explicações alternativas antes de confirmar a vida fora da terra.

Características de K2-18 b e o cenário de mundo oceânico

K2-18 b é um exoplaneta intrigante:

  • Massa: 8,6 vezes a da Terra
  • Diâmetro: 2,6 vezes maior que o terrestre
  • Estrela hospedeira: anã vermelha, menos luminosa que o Sol
  • Localização: zona habitável, onde água líquida pode existir

Com a atmosfera rica em hidrogênio e probabilidade de um vasto oceano global, K2-18 b encaixa-se na categoria de “mundo oceânico”. Nesses ambientes, a vida microbiana poderia se desenvolver em camadas aquáticas, protegida de radiação intensa e suportada pela presença de água e nutrientes dissolvidos.

Transferência de materiais e bioassinaturas em outros corpos

A ideia de panspermia sugere que organismos ou compostos geradores de vida podem viajar de um corpo para outro via cometas ou meteoritos. Caso fragmentos de DMS e DMDS tivessem sido carregados para K2-18 b, precisaríamos justificar concentrações tão altas apenas por transporte exógeno, o que é improvável.

Em comparação, concentrações de DMS na Terra giram em torno de partes por bilhão, enquanto no K2-18 b foram observadas partes por milhão. Tais níveis exigem uma fonte contínua e volumosa — exatamente o que microrganismos aquáticos poderiam produzir, fortalecendo a hipótese de vida fora da terra.

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Desafios para confirmar vida microbiana

Mesmo com bioassinaturas promissoras, várias etapas ainda são necessárias antes de anunciarmos vida fora da terra:

  1. Repetir observações: múltiplas passagens de trânsito devem confirmar a persistência dos sinais.
  2. Modelagem atmosférica: entender dispersão, química e dinâmica de gases no exoplaneta.
  3. Identificar outras moléculas: presença simultânea de metano, oxigênio ou outros indicadores amplia confiança.
  4. Descartar interações estelares: radiação e ventos estelares de anãs vermelhas podem influenciar a química.

Somente combinando espectroscopia de alta resolução e modelagem detalhada saberemos se as moléculas são produto da vida ou de processos não biológicos exóticos.

Próximos passos na busca por vida fora da terra

A jornada segue intensa:

  • Novas campanhas do JWST: foco em K2-18 b e planetas semelhantes.
  • Telescópios gigantes terrestres: Extremely Large Telescope (ELT) e Giant Magellan Telescope (GMT) poderão confirmar bioassinaturas.
  • Métodos de imageamento direto: buscar moléculas em planetas mais distantes sem depender de trânsitos.
  • Missões futuras: estudos atmosféricos em exoplanetas com tecnologia de próxima geração.

Enquanto isso, cada gota de informação ajuda a refinar critérios de detecção, aumentando nossa capacidade de encontrar vida fora da terra em mundos cada vez mais diversos.

Conclusão: um novo capítulo na astrobiologia

A detecção de DMS e DMDS no K2-18 b representa um marco na busca de vida fora da terra. Embora ainda não seja a confirmação de organismos vivos, trata-se do indício mais forte já encontrado além do Sistema Solar. O cenário de mundo oceânico, as concentrações elevadas de gases biológicos e o ambiente favorável à água líquida fazem de K2-18 b um candidato ideal para abrigar vida microbiana.

Cientistas de Cambridge e de demais instituições agora concentram esforços em observações de repetição, modelagem atmosférica e busca por outras moléculas-chave. Nas próximas décadas, com telescópios cada vez mais potentes, poderemos não só confirmar a existência de vida em K2-18 b, mas também em inúmeros outros planetas espalhados pela Via Láctea.

Este é apenas o começo de uma revolução na astrobiologia, e cada nova descoberta nos aproxima de responder à pergunta mais antiga da humanidade: estamos sozinhos no universo?

Charles Fábion

Arquiteto baiano entusiasta de tecnologia, ciência e comunicação. Criei esse site justamente para compartilhar com você os principais assuntos da atualidade, sempre comprometido em fornecer conteúdo relevante, original e de qualidade.

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