Ciência

O mistério do único animal que não precisa de oxigênio para sobreviver

Você já imaginou um ser vivo que não precisa de oxigênio para sobreviver? Pois é, nem eu. Sempre acreditamos que o oxigênio é indispensável para todos os organismos multicelulares do planeta — mas essa ideia foi desafiada por uma descoberta recente e surpreendente.

Uma equipe de cientistas revelou a existência de um animal que vive sem depender da respiração celular como conhecemos.

E não estamos falando de um micro-organismo qualquer, mas de um animal com estrutura corporal complexa, que sobrevive em condições que antes pareciam impossíveis para formas de vida mais desenvolvidas.

Vamos explorar agora esse verdadeiro enigma da natureza — uma revelação que muda nossa percepção sobre a vida e até sobre o que podemos esperar encontrar fora da Terra.

Henneguya Salminicola animal único animal que não precisa de oxigênio
O mistério do único animal que não precisa de oxigênio para sobreviver – Foto: Stephen Douglas Atkinson

O que sabemos sobre a importância do oxigênio?

Durante toda a nossa história, aprendemos que o oxigênio é a base da vida animal. Respiramos para viver. Sem esse elemento vital, nosso corpo simplesmente para de funcionar em segundos.

Essa necessidade vem da forma como as nossas células produzem energia. Dentro delas, as mitocôndrias usam o oxigênio para gerar ATP (trifosfato de adenosina), a “moeda energética” das funções vitais. Sem ATP, sem vida.

É por isso que as mitocôndrias são chamadas de “usinas de energia” da célula. Mas agora sabemos que nem todo ser vivo segue esse mesmo manual.

A descoberta que chocou a biologia

Imagine um parasita aquático minúsculo, quase invisível a olho nu, vivendo no interior de um peixe. Em 2020, esse organismo foi identificado por cientistas da Universidade de Tel Aviv, em Israel, liderados pela pesquisadora Dayana Yahalomi.

Estamos falando do Henneguya salminicola, um cnidário microscópico — parente das águas-vivas — que vive dentro de salmões e não possui genoma mitocondrial, ou seja, não respira.

Esse achado foi publicado na prestigiada revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences e causou alvoroço na comunidade científica, por um motivo simples: nenhum outro animal multicelular conhecido sobrevive sem oxigênio.

Como é possível viver sem oxigênio?

A genética faz toda a diferença

O segredo do Henneguya salminicola está em sua evolução genética extrema. Ao longo de milhões de anos, esse parasita passou por uma simplificação radical. Ele perdeu partes do seu DNA e as mitocôndrias originais foram modificadas, a ponto de não precisarem mais de oxigênio para produzir energia.

Em vez disso, acredita-se que ele obtenha energia de formas químicas alternativas, absorvendo compostos diretamente de seu hospedeiro.

Esse processo é muito semelhante ao que fazem alguns protozoários e fungos anaeróbicos, mas nunca havia sido visto em um animal.

Adaptação ao ambiente extremo

O local onde o Henneguya vive — dentro dos músculos de um salmão — é um ambiente com baixíssimos níveis de oxigênio, o que favoreceu sua adaptação.

Em vez de lutar para manter o oxigênio, ele simplesmente “abandonou” essa dependência.

Esse processo de simplificação evolutiva é conhecido como reductive evolution e já foi observado em muitos microrganismos, mas agora vimos que ele também pode ocorrer em animais multicelulares.

Por que essa descoberta é tão importante?

Rompendo paradigmas científicos

Durante séculos, acreditou-se que o oxigênio era absolutamente necessário para qualquer animal multicelular. A descoberta do Henneguya salminicola rompe essa barreira e abre novos horizontes para o estudo da vida em condições extremas.

Agora sabemos que a vida pode existir mesmo sem os elementos que considerávamos essenciais. Isso muda tudo o que pensávamos sobre os limites da biologia.

Novas possibilidades para a astrobiologia

Se existe um animal na Terra que vive sem oxigênio, então é possível que organismos semelhantes existam em outros planetas, onde esse gás está ausente.

Planetas ou luas com ambientes anaeróbicos, como Europa (lua de Júpiter) ou Encélado (lua de Saturno), já são considerados promissores pela NASA. A existência do Henneguya fortalece ainda mais a esperança de encontrar vida lá fora.

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A vida é mais complexa (e simples) do que imaginamos

O que mais me surpreende nessa história é como a vida consegue driblar as regras. A natureza não para de nos mostrar que as exceções são muitas vezes mais interessantes que as regras.

Esse pequeno parasita é um lembrete poderoso de que a evolução não segue um roteiro fixo. Ela responde ao ambiente de formas surpreendentes, eliminando o que não é necessário para manter o essencial: a sobrevivência.

O que podemos aprender com o Henneguya salminicola?

  • Nem todo ser vivo depende de oxigênio.
  • A vida pode existir em ambientes considerados “inóspitos”.
  • A evolução pode levar à perda de funções, e não apenas à aquisição de novas.
  • A biologia ainda está cheia de segredos que só o tempo e a pesquisa podem revelar.
  • Buscar vida fora da Terra agora faz ainda mais sentido com base em evidências como essa.

Mais descobertas surpreendentes como essa

Além do Henneguya, outros organismos também já demonstraram habilidades surpreendentes de sobrevivência:

  • Tardígrados: pequenos animais que suportam vácuo, radiação, congelamento e calor extremo.

  • Bactérias anaeróbicas: vivem em locais onde o oxigênio é tóxico, como sedimentos oceânicos profundos.

  • Arqueias extremófilas: sobrevivem em locais como fontes hidrotermais e lagos ácidos.

Mas o Henneguya salminicola é especial por ser um animal multicelular, o que eleva a complexidade do seu metabolismo e sua relevância científica.

O que vem pela frente?

A partir desta descoberta, cientistas têm agora um novo foco de pesquisa: compreender exatamente como o Henneguya produz energia sem mitocôndrias funcionais. Essa investigação pode revelar novos caminhos metabólicos ainda desconhecidos na biologia.

Além disso, o estudo pode gerar impactos em áreas como medicina, genética e até engenharia biológica. Imagine, por exemplo, desenvolver micro-organismos que consigam viver e funcionar em condições anaeróbicas extremas para aplicações industriais ou espaciais.

Esse é o único animal que não precisa de oxigênio

A descoberta do único animal que não precisa de oxigênio para viver é mais do que uma curiosidade científica. É uma verdadeira revolução no nosso entendimento sobre os limites da vida.

O Henneguya salminicola nos mostra que a vida é resiliente, criativa e imprevisível. Ela desafia o impossível e se adapta de formas que ainda estamos começando a compreender.

Se você, assim como eu, ficou fascinado por essa história, compartilhe esse conhecimento com outras pessoas. Afinal, quanto mais aprendemos sobre a vida na Terra, mais preparados estaremos para entender o que pode existir além dela.

Charles Fábion

Arquiteto baiano entusiasta de tecnologia, ciência e comunicação. Criei esse site justamente para compartilhar com você os principais assuntos da atualidade, sempre comprometido em fornecer conteúdo relevante, original e de qualidade.

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